22/01/2024 às 11h09
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Redacao
Vespasiano / MG
Na última semana, muitos estrangeiros ficaram surpresos ao abrir o X, antigo Twitter, e se depararem com uma tag que pedia respeito a Bin Laden. Embora fora do Brasil o nome seja associado ao terrorista responsável pelos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, em 2001, por aqui, o nome se refere a outra figura: a do funkeiro famoso pelo hit “Tá Tranquilo, Tá Favorável’, que, neste ano, participa da 24ª edição do “Big Brother Brasil” (Globo). MC Bin Laden, porém, não é o único a figurar entre os temas mais comentados nas redes sociais e fora delas. Ao lado dele, nomes de outros participantes do programa, vira e mexe, estão na boca do povo. Acompanhar o reality show, o mais longevo da TV brasileira, já se transformou em uma tradição que marca o início do ano de muita gente.
Mas o que será que há por trás do desejo de observar o cotidiano de outras pessoas? Por que nos divertimos e nos empenhamos em acompanhar cada detalhe e até mesmo julgar a vida alheia? Será que dar uma “espiadinha” é algo natural? Segundo o psicólogo Danty Marchezane, sim. “Sempre tivemos um pouquinho de interesse na vida do vizinho, do familiar ou do amigo, por exemplo. E isso é algo natural para a gente, mas claro, que vem junto de uma cultura que não é de hoje. É uma coisa que nos acompanha há algum tempo”, explica.
E não faltam exemplos históricos que reforcem o quanto o ser humano sempre esteve atento à vida dos outros. Na Idade Média, pessoas foram condenadas à fogueira após terem comportamentos e conhecimentos delatados. Reis e rainhas também já tiveram a vida íntima teorizada e altamente comentada entre os seus súditos. Com as redes sociais, que escancaram ainda mais o cotidiano alheio para que todos possam ver, esse tipo de comportamento torna-se cada vez mais comum e rotineiro.
Mas, dentro da própria relação que construímos com a vida do outro, há outro movimento puramente humano que não pode ser dissociado desse interesse. É isso o que explica Danty Marchezane. Ele, que também é mestre em estudos psicanalíticos pela UFMG, professor da Faculdade Pitágoras e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, ressalta que estamos sempre buscando por uma identificação com o outro. “A nossa constituição psíquica é toda dada pelo outro. Quem fala o que é bonito e o que é feio é sempre o outro. A opinião que temos sobre a beleza e a feiura é uma opinião que não deriva de um pensamento que é 100% original nossa, mas sim algo que acontece a partir de uma identificação que você faz com algo que é dito sobre o que é tomado como belo”, exemplifica.
Ele pondera que esse processo de identificação nunca é algo consolidado; por isso, é sempre uma busca constante. “É algo que surge desde o nosso nascimento, porque a partir desse momento, para sobreviver, vamos ter que nos identificar com o outro. É a nossa identificação que vai nos permitir ter uma opinião e um ponto de vista”, diz.
BBB amplifica e se aproveita de um comportamento natural
Por mais que o interesse pela vida de outras pessoas seja um hábito antigo e consolidado no comportamento humano, há uma mudança quando o assunto é o “Big Brother Brasil”. “Quando falamos de certo interesse na vida do outro, isso é algo natural, que tornou-se natural. Agora, quando falamos do ‘BBB’, isso é tudo, menos natural”, pontua o psicólogo Danty Marchezane.
Para ele, o reality faz parte de uma cultura criada para produzir um produto que nos chame a atenção. “É por isso que ele tem personas bem definidas. Não é só colocar 20 pessoas anônimas e famosas ali que aquilo irá gerar um interesse. O programa é uma coisa muito bem pensada, muito bem elaborada para gerar entretenimento”, explica.
A produção, inclusive, tem sido tão bem feita que o “Big Brother” perdura há mais de duas décadas na televisão brasileira. Nesta nova edição, inclusive, o programa já tem conquistado recordes importantes. Além de dominar os assuntos nas redes sociais, o “BBB 24” já tem superado os números de audiência da edição anterior. Segundo dados da TV Globo, o terceiro episódio superou em 2 pontos (+10%) de audiência e 5 pontos de participação a edição de 2023. O acumulado dos três primeiros dias também foi superior ao da edição de 2023.
Apesar do sucesso, Danty acredita que é necessário que sejam extraídos questionamentos ao próprio jogo que se constrói no “Big Brother Brasil” - não aquele que acontece dentro da casa, em busca da premiação milionária, mas sim o que é constituído com os próprios espectadores. “É construída uma cultura que nos implica na vida dos outros mais do que na nossa. Acho que essa é a crítica fundamental que precisamos fazer: que entretenimento é esse que se baseia exclusivamente em observar a vida do outro? Isso acontece a troco de quê? O que isso produz no final das contas? São pensamentos importantes ou pensamentos alienantes? Acho que é muito necessária essa discussão”.
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